Pensar em escrever ou contar uma história, quase é impossível se não recorremos através da memória de infância. Período que tudo acontece em passos de mágica, nossos olhos estão sempre voltados a tudo ao nosso redor. Porém, a imaginação da criança transcende a realidade, tudo é fantástico e maravilhoso.
Quando era menina, vivia no mundo da fantasia. Ainda me recordo que meu livro companheiro era “Alice no país da Maravilha”, olha que naquele tempo Jhony Deep ainda era bem pequeno. Mas, voltando as minhas fantasias me lembro do quintal da minha casa, todo arborizado. As árvores eram frondosas e o que mais me encantava eram as cores. Os diferentes tons de verdes, as flores da mangueira, do algodoeiro. A flor do maracujá me fascinava como mudava de cor e forma como mágica. Eu pegava uma varinha e virava o mágico, blim...blim...os pistilos daquela flor eram bichinhos e depois se transformavam em contas de ouro.
Certo dia! Toda criança tem “certo dia”. Esse dia foi o meu “glorian days”. Minha mãe foi me ensinar a plantar uma roseira.
Senti em minhas mãos um caulezinho entristecido, meu coração partiu, peguei o pra mim como se fosse um órfão, cheio de espinhos machucando as minhas pequenas mãos que um dos meus dedos chegou até sangrar. _ Calma meu bichinho arredio. Pensava eu com aquele pedaço de caule rebelde como se quisesse vingar de mim a poda que o afastou da matriz. Preparamos o berço, como orienta meu amigo Regis: _“Não é cova, não estamos matando, estamos plantando vida”. Plantei com tanta paciência, sentia que tirava as dores, as mágoas, doenças quando retirava as folhas secas daquele caule sofrido.
Eu trabalhei, fiz tudo, dei esperança, fui persistente. A noite pedia nosso Deus para afastar as formiguinhas dele. Era naquele momento, a minha herança, a flor que saísse dele. Todos os dias eu ficava observando como era lindo os pequenos pontinhos que apontavam naquele caule, regava, ajeitava a terra, tudo com muito cuidado, mas não deixava de levar uma fincada de seus espinhos. Mas, aquela planta era uma flor, como sino, uma canção, um sonho!
É a flor...o botão apontou, inseguro, tímido procurando a luz, admirava aquele movimento, as diferentes posições daquele pequeno ser, depois um irmãozinho, depois outro e mais outro. Meu pequeno caule virou família. E de presente me ofertaram as mais lindas rosas vermelhas que jamais esqueci.
E hoje quando me lembro dessa experiência sei que naqueles momentos de infância, que os adultos quase não dão importância, foi meu pleno reconhecimento de mundo que nos abraça e nos oferta a herança natural da sabedoria.
Alcionéia Santiago Simplício Neves
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